No
passado dia 22 de janeiro o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mário
Draghi, avançou com uma declaração inesperada para uns, mas já muito esperada
por tantos outros. Na sequência de uma
reavaliação exaustiva das perspetivas de evolução dos preços e do estímulo
monetário alcançado, o BCE decidiu:
1) Lançar
para o mercado um programa de compra de
ativos - públicos e privados - EAPP.
O programa prevê a compra de 60 mil milhões de euros por mês de divida pública
pertencente aos países que participam no BCE. O EAPP terá início em março e
durará até setembro de 2016. As compras de dívida serão feitas com base na proporção de capital de cada
país no BCE. No entanto existem limites: (i) 33% sobre o total de obrigações de cada país e
(ii) 25% de emissões de dívida. Saliente-se que no caso de se verificarem
perdas, vigorará um sistema de partilha de perdas, através do qual o BCE
assumirá 20% das eventuais perdas e os bancos centrais nacionais os restantes
80%.
2) Alterar o preço das seis operações de refinanciamento de longo-prazo
específicas (Targeted longer-term refinancing operations - TLTROs), programa anterior ao EAPP.
Desta forma, a taxa de juro aplicável às operações TLTRO futuras será igual à
taxa das operações principais de refinanciamento do Eurosistema em vigor em
cada momento, que atualmente se situa nos 0,5%.
3) Manter as taxas de juro diretoras inalteradas. A taxa de referência em 0,05%. A taxa de depósitos em
-0,20% e a taxa da facilidade permanente de cedência marginal de liquidez em
0,30%.
Após se apresentarem os factos, há que tentar entender
o porque deste programa de compra de ativos e qual o objetivo do BCE
com esta medida, que se dá pelo nome de Expanded
Asset Purchase Program (EAPP). O BCE pretende combater o risco de deflação,
numa altura em que a inflação da zona euro se encontra em terreno negativo,
-0,2% em dezembro segundo o Eurostat, e em que a média de 2014 rondou os 0,4%,
bem longe dos desejáveis 2%. As causas apontadas para esta inflação prendem-se
com desenvolvimentos
geopolíticos, a taxa de câmbio e a evolução dos preços da energia.
De ressalvar que um dos principais objetivos do BCE é a estabilidade de
preços e daí a necessidade destas medidas de forma a ancorar as expectativas de
inflação a médio e longo prazo.
O nome técnico deste tipo de pograma é Quantitative
Easing (QE), que segundo a definição do Banco de Inglaterra, consiste numa"
política monetária não convencional em que um banco central cria novo dinheiro
eletronicamente para comprar ativos". A teoria económica do QE resume-se
aos seguintes passos:
Com este programa BCE espera que o efeito de
juros mais baixos resulte em mais dinheiro disponível para investir, bem como
na maior propensão para a criação de emprego, melhorias salariais e até reduções
nos custos de endividamento dos estados. Paralelamente, o QE incentiva as
exportações, na medida em que não deixa de ser uma emissão de moeda que
desvaloriza o euro, o que desde logo potenciará as exportações dos países da
moeda única para fora da Europa. Por fim, também os encargos com juros dos
estados deverão cair.
Porém a aplicação deste tipo de programa
também pode trazer efeitos adversos e contrários aos expectáveis. A realidade é
que o impacto a curto prazo será reduzido, e em vez de potenciar a redução de
impostos pode potenciar o oposto, podendo também não levar a aumentos salariais
ou criação de emprego no imediato. Por outro lado, os bancos poderão voltar a
fazer o que já fizeram anteriormente e em vez de reforçarem o crédito usarem os
recursos para reforçarem os seus próprios capitais.
E assim se compreende que Mário Draghi alerte que “seria um erro se os
governos achassem que a existência deste programa era um incentivo para
expansão fiscal”, ou seja, para aumentar o endividamento. “O que esta política
monetária pode fazer é criar bases para o crescimento. Mas para que a economia
cresça é preciso investimento. Para haver investimento tem de haver confiança.
Para haver confiança tem de haver reformas estruturais”.
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