A
privatização de empresas públicas tem sido um dos assuntos mais debatidos nos
últimos tempos, ocupando um lugar cimeiro na agenda política, com especial
destaque para o período pós crise de 2008, consequência do programa de
ajustamento financeiro e das pressões às privatizações por parte dos parceiros
europeus.
Na
realidade, apesar da grande ênfase que se tem dado, mais recentemente, a este
tema, a privatização de empresas públicas não é tema recente, aliás remonta já
ao período pós 25 de abril. De acordo com dados da OCDE, disponibilizados em
2002, entre 1990 e 2001 o processo de venda de empresas públicas rendeu ao
Estado português 25,645 mil milhões de dólares, um valor ligeiramente superior
ao obtido pelo Estado alemão no mesmo período.
Apesar dos
vários motivos inerentes a este tipo de decisão, de entre os quais o alcance de
objetivos políticos e económicos, o grande argumento utilizado para justificar
um processo de privatização é sempre a melhoria da eficiência da empresa a
privatizar. De facto, acredita-se que a performance de empresas públicas é
inferior à performance de empresas privadas e acredita-se, também, que a venda
de uma empresa pública a uma entidade privada potenciará uma melhoria da
performance da empresa. Do ponto de vista teórico, existem 3 grandes teorias ou
argumentos que justificam o menor desempenho das empresas públicas:
- Divisão de poderes entre a propriedade e o controlo. Esta forma de pensamento defende que os gestores de empresas privadas recebem mais incentivos para eliminarem os desperdícios e melhorarem a eficiência interna, enquanto que os proprietários das empresas públicas têm uma fraca capacidade de monitorizar o comportamento dos seus gestores. Assim, os gestores de empresas privadas são mais disciplinados pela pressão de vários mecanismos externos, como por exemplo o mercado
- Direitos de propriedade. Os teóricos que defendem esta corrente de pensamento argumentam que os gestores de empresas públicas não sofrem as consequências económicas das suas decisões, o que por sua vez reduz os incentivos para a diminuição dos desperdícios e aumento dos lucros. Enquanto os gestores de empresas privadas são pressionados pela ameaça de falência, os gestores de empresas públicas não estão tão expostos a esta ameaça, uma vez que a diferença entre lucros e gastos pode ser balanceada pelo Estado, não se verificando assim incentivos à redução de desperdícios, de que são exemplos o excesso de pessoal, os salários excessivamente elevados e os investimentos desproporcionais
- Escolha pública. De acordo com esta forma de pensamento, os políticos e oficiais do governo estarão mais preocupados em atingir os seus próprios objetivos, de que são exemplos os votos, o poder ou prestígio do que garantir a eficiência das empresas públicas.
Assim,
torna-se essencial perceber quais os benefícios de uma política massiva de
privatizações que deve ir além do encaixe financeiro do estado. Contudo este
tema não é consensual, uma vez que em alguns países as privatizações têm-se
mostrado de facto benéficas, na medida em que potenciaram a eficiência das
empresas, mas noutros países não têm sido encontradas evidências de que as privatizações
estejam a potenciar significativamente a eficiência.
Por
exemplo, num estudo recentemente realizado para o caso espanhol, concluiu-se
que não existem diferenças significativas entre a eficiência das empresas
privatizadas e as restantes empresas do respetivo setor. Verificou-se, também
que as empresas públicas espanholas antes da respetiva privatização não eram
nem das mais eficientes nem das menos eficientes comparativamente com as
restantes empresas do setor. Não obstante, concluiu-se, ainda que as empresas
públicas após serem privatizadas aumentaram significativamente a sua
eficiência, não se verificando contudo nenhuma alteração significativa nas
restantes empresas do setor, no período pós-privatização. Quer isto dizer que
as privatizações podem, de facto, influenciar a eficiência das empresas
particularmente no caso das empresas públicas que já apresentam elevados níveis
de eficiência, uma vez que é principalmente nesta categoria que se fazem sentir
os melhoramentos ao nível da eficiência.
Apesar de,
pelo nosso conhecimento, não existirem evidências quanto à efetiva melhoria de
eficiência associada às privatizações portuguesas, mas considerando o estudo
sobre o país vizinho e partindo do pressuposto que efetivamente as
privatizações estão associadas a um incremento da eficiência, porque é que se
verifica tanta resistência por parte da opinião pública e dos próprios
trabalhadores às privatizações? Esta questão será respondia num próximo post. Mas podemos já adiantar que a
grande resistência prende-se com as alterações laborais e de salários.
Bibliografia
Arocena, Pablo; Oliveros, Diana (2012) “The efficiency
of stat-owned and privatized firms: does ownership make a difference?", International Journal of Production
Economics
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