Terminada
a formação académica, o jovem enfrenta a entrada no mercado de trabalho, o qual se caracteriza pela existência de empresas bastante
distintas entre si. De um lado empresas consolidadas no mercado e do outro lado
jovens empresas em fase inicial (startups).
Neste artigo dissertamos sobre as motivações que levam jovens trabalhadores a
preferirem jovens empresas e vice-versa.
Startup significa o ato de começar. Popularizado nos anos 90,
o termo startup é utilizado para fazer
referência a empresas recém-criadas que apostam num modelo de negócio escalável
e repetivel, ou seja, num modelo capaz de abranger um grande número de clientes
e gerar lucro num curto espaço de tempo, sem que os custos aumentem na mesma
proporção dos lucros alcançados. Não obstante, numa fase inicial, a startup é marcada por um cenário de
incertezas e obstáculos, onde ideias aparentemente rentáveis podem revelar-se
inaplicáveis.
A definição de startup envolve quatro aspetos essenciais:
-
Incerteza - não há como afirmar que a ideia e/ou projeto irá resultar e ser
sustentável;
- Modelo
de negócio - o que gera valor na startup.
Por exemplo, um dos modelos de negócio da Google é cobrar por cada visualização
de anúncios;
- Ser repetível - capacidade de entregar o mesmo produto em escala
potencialmente ilimitada e sem muitas adaptações;
- Ser escalável – exibir um crescimento continuado sem influência no
modelo de negócio, ou seja, apresentar um crescimento de rendimentos superior
ao crescimento dos custos. Batalhando por margens de lucro cada vez maiores e,
consequentemente, gerando riqueza crescente.
Nos anos 90, nos EUA, surgiram várias Startups, algumas delas bem conhecidas e líderes de mercado nos
dias de hoje, de que são exemplos a
Google, a Apple Inc., o Facebook, o Yahoo! ou a Microsoft.
As Startups ou
jovens empresas são consideradas mais dinâmicas que empresas mais consolidadas
no mercado, contudo têm também associado um risco de sobrevivência
consideravelmente mais elevado, apesar de atingirem taxas de crescimento médias
mais elevadas.
De entre as várias características que tornam as jovens empresas
singulares, o capital humano é indubitavelmente um fator de destaque.
De acordo com dados de um conjunto de empresas dos EUA disponíveis no U.S. Census Bureau, as startups empregam
trabalhadores mais jovens, mais concretamente, 27% dos trabalhadores têm idades
compreendidas entre os 25 e os 34 anos e 70% dos trabalhadores têm idade
inferior a 45 anos.
O que motiva as jovens empresas a procurarem trabalhadores jovens
pode passar por aspetos como:
- Possuírem formação técnica atualizada, essencial para o desenvolvimento de novos produtos, marcas e processos (Christiansen, 1997);
- Serem mais tolerantes ao risco e à mudança;
- Auferirem um salário mais baixo, comparativamente a alguém mais experiente na função;
- Terem maior disponibilidade para dedicar à empresa e ao desenvolvimento profissional.
Como já destacado supra, a reduzida idade e o capital humano
jovem são características patentes em qualquer startup, no entanto as
características diferenciadoras deste tipo de empresas não se subsume as estes
dois fatores. Concomitantemente, jovens empresas apresentam
taxas de crescimento mais elevadas em comparação com empresas mais experientes,
são mais propensas a enfrentar restrições e enfrentam custos mais elevados no
acesso a capital externo (Hadlock e Pierce, 2010). As limitações próprias de
uma jovem empresa tornam-na mais sensível a variações de preço, a restrições no
mercado de crédito (Davis e Haltiwanger, 2001) e a crises económicas (Fort et al., 2012). A inovação é também um
fator de distinção, que desvanece ao longo do tempo (Huergo e Jaumandreu, 2004).
Quanto às motivações dos jovens trabalhadores para ingressar
em jovens empresas destacam-se o facto de os jovens serem
mais suscetíveis a mudar de emprego no início de carreira e mais propensos a
assumir riscos (Hensely, 1977). Simultaneamente, apresentam um maior nível de incerteza
quanto às suas capacidades e gostos (Johnson, 1978), o que os leva a
experimentar vários postos de trabalho, até encontrem aquele que corresponda
aos seus desejos enquanto profissionais, quer seja ao nível da função, do rendimento
e do equilíbrio entre a profissão e a vida pessoal. Na verdade, Topel e Ward
(1992) constataram que nos primeiros 10 anos de carreira, o trabalhador muda, em
média, sete vezes de emprego, o que representa dois terços do total de mudanças
de emprego ao longo da vida laboral.
As startups, por
regra, oferecem melhores condições salariais a jovens trabalhadores,
comparativamente com as restantes empresa. Os jovens trabalhadores têm ainda
maior perspetiva de crescimento profissional numa pequena estrutura do que em estruturas
já consolidadas que caracterizam empresas mais antigas no mercado.
Sendo os jovens o principal capital humano em que as startups apostam, estará a disseminação
das startups limitada ao número de
jovens trabalhadores disponíveis? Vários estudos sugerem que os novos
trabalhadores são de facto um fator importante na criação e crescimento de
novas empresas.
Olhando para a
realidade nacional, Portugal é um terreno fértil para a constituição de novas
empresas. Segundo dados divulgados pela IGNIO, até
junho de 2015 foram constituídas 21.094 empresas, mais 2.243 empresas (+11,9%),
quando comparado com o período homólogo de 2014, onde cerca de 84,2% das
empresas constituídas não ultrapassou os 5.000 € de capital social e cuja
localização de 28% desta novas empresas corresponde ao distrito de Lisboa.
Mais
informação em:
Referências
Christiansen, C. (1997) The
Innovator’s Dilemma: When New Technologies Cause Great Firms to Fail, Harvard
Business School Press, Boston, MA.
Davis, S., e Haltiwanger, J. (2001)
Sectoral Job Creation and Destruction Responses to Oil Price Changes, Journal
of Monetary Economics, 48:465-512.
Fort, T., Haltiwanger, J., Jarmin,
R., e Miranda, J. (2012) How Firms Respond to Business Cycles: The Role of Firm
Age and Firm Size, working paper.
Hadlock, C. e Pierce, J. (2010)
New Evidence on Measuring Financial Constraints: Moving Beyond the K-Z Index,
Review of Financial Studies, 23:1909-1940.
Hensley, W. (1977) Probability,
Personality, Age, and Risk-Taking. The Journal of Psychology, 95:139-145.
Huergo, E., e Jaumandreu, J.
(2004) Firms’ Age, Process Innovation and Productivity Growth, International
Journal of Industrial Organization 22:541-559.
Johnson, W. (1978) A Theory of
Job Shopping, Quarterly Journal of Economics, 92:261-277.
Ouimet, P. e Zarutskie, R. (2013)
“Who Works for Startups? The Relation between Firm Age,
Employee Age, and Growth”, Center for Economic Studies Working Papers.
Topel, R. e Ward, M. (1992) Job Mobility and the
Careers of Young Men, Quarterly Journal of Economics, 107:441-79.
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