sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Jovens trabalhadores e jovens empresas: uma combinação de sucesso?

Terminada a formação académica, o jovem enfrenta a entrada no mercado de trabalho, o qual se caracteriza pela existência de empresas bastante distintas entre si. De um lado empresas consolidadas no mercado e do outro lado jovens empresas em fase inicial (startups). Neste artigo dissertamos sobre as motivações que levam jovens trabalhadores a preferirem jovens empresas e vice-versa.


Startup significa o ato de começar. Popularizado nos anos 90, o termo startup é utilizado para fazer referência a empresas recém-criadas que apostam num modelo de negócio escalável e repetivel, ou seja, num modelo capaz de abranger um grande número de clientes e gerar lucro num curto espaço de tempo, sem que os custos aumentem na mesma proporção dos lucros alcançados. Não obstante, numa fase inicial, a startup é marcada por um cenário de incertezas e obstáculos, onde ideias aparentemente rentáveis podem revelar-se inaplicáveis.
A definição de startup envolve quatro aspetos essenciais:
- Incerteza - não há como afirmar que a ideia e/ou projeto irá resultar e ser sustentável;
- Modelo de negócio - o que gera valor na startup. Por exemplo, um dos modelos de negócio da Google é cobrar por cada visualização de anúncios;
- Ser repetível - capacidade de entregar o mesmo produto em escala potencialmente ilimitada e sem muitas adaptações;
- Ser escalável – exibir um crescimento continuado sem influência no modelo de negócio, ou seja, apresentar um crescimento de rendimentos superior ao crescimento dos custos. Batalhando por margens de lucro cada vez maiores e, consequentemente, gerando riqueza crescente.
Nos anos 90, nos EUA, surgiram várias Startups, algumas delas bem conhecidas e líderes de mercado nos dias de hoje, de que são exemplos  a Google, a Apple Inc., o Facebook, o Yahoo! ou a Microsoft. 
As Startups ou jovens empresas são consideradas mais dinâmicas que empresas mais consolidadas no mercado, contudo têm também associado um risco de sobrevivência consideravelmente mais elevado, apesar de atingirem taxas de crescimento médias mais elevadas.
De entre as várias características que tornam as jovens empresas singulares, o capital humano é indubitavelmente um fator de destaque. De acordo com dados de um conjunto de empresas dos EUA disponíveis no U.S. Census Bureau, as startups empregam trabalhadores mais jovens, mais concretamente, 27% dos trabalhadores têm idades compreendidas entre os 25 e os 34 anos e 70% dos trabalhadores têm idade inferior a 45 anos.
O que motiva as jovens empresas a procurarem trabalhadores jovens pode passar por aspetos como:
  1. Possuírem formação técnica atualizada, essencial para o desenvolvimento de novos produtos, marcas e processos (Christiansen, 1997);
  2.  Serem mais tolerantes ao risco e à mudança;
  3. Auferirem um salário mais baixo, comparativamente a alguém mais experiente na função;
  4. Terem maior disponibilidade para dedicar à empresa e ao desenvolvimento profissional.

Como já destacado supra, a reduzida idade e o capital humano jovem são características patentes em qualquer startup, no entanto as características diferenciadoras deste tipo de empresas não se subsume as estes dois fatores. Concomitantemente, jovens empresas apresentam taxas de crescimento mais elevadas em comparação com empresas mais experientes, são mais propensas a enfrentar restrições e enfrentam custos mais elevados no acesso a capital externo (Hadlock e Pierce, 2010). As limitações próprias de uma jovem empresa tornam-na mais sensível a variações de preço, a restrições no mercado de crédito (Davis e Haltiwanger, 2001) e a crises económicas (Fort et al., 2012). A inovação é também um fator de distinção, que desvanece ao longo do tempo (Huergo e Jaumandreu, 2004).
Quanto às motivações dos jovens trabalhadores para ingressar em jovens empresas destacam-se o facto de os jovens serem mais suscetíveis a mudar de emprego no início de carreira e mais propensos a assumir riscos (Hensely, 1977). Simultaneamente, apresentam um maior nível de incerteza quanto às suas capacidades e gostos (Johnson, 1978), o que os leva a experimentar vários postos de trabalho, até encontrem aquele que corresponda aos seus desejos enquanto profissionais, quer seja ao nível da função, do rendimento e do equilíbrio entre a profissão e a vida pessoal. Na verdade, Topel e Ward (1992) constataram que nos primeiros 10 anos de carreira, o trabalhador muda, em média, sete vezes de emprego, o que representa dois terços do total de mudanças de emprego ao longo da vida laboral.
As startups, por regra, oferecem melhores condições salariais a jovens trabalhadores, comparativamente com as restantes empresa. Os jovens trabalhadores têm ainda maior perspetiva de crescimento profissional numa pequena estrutura do que em estruturas já consolidadas que caracterizam empresas mais antigas no mercado.
Sendo os jovens o principal capital humano em que as startups apostam, estará a disseminação das startups limitada ao número de jovens trabalhadores disponíveis? Vários estudos sugerem que os novos trabalhadores são de facto um fator importante na criação e crescimento de novas empresas.

Olhando para a realidade nacional, Portugal é um terreno fértil para a constituição de novas empresas. Segundo dados divulgados pela IGNIO, até junho de 2015 foram constituídas 21.094 empresas, mais 2.243 empresas (+11,9%), quando comparado com o período homólogo de 2014, onde cerca de 84,2% das empresas constituídas não ultrapassou os 5.000 € de capital social e cuja localização de 28% desta novas empresas corresponde ao distrito de Lisboa.

Mais informação em:

Referências
Christiansen, C. (1997) The Innovator’s Dilemma: When New Technologies Cause Great Firms to Fail, Harvard Business School Press, Boston, MA.
Davis, S., e Haltiwanger, J. (2001) Sectoral Job Creation and Destruction Responses to Oil Price Changes, Journal of Monetary Economics, 48:465-512.
Fort, T., Haltiwanger, J., Jarmin, R., e Miranda, J. (2012) How Firms Respond to Business Cycles: The Role of Firm Age and Firm Size, working paper.
Hadlock, C. e Pierce, J. (2010) New Evidence on Measuring Financial Constraints: Moving Beyond the K-Z Index, Review of Financial Studies, 23:1909-1940.
Hensley, W. (1977) Probability, Personality, Age, and Risk-Taking. The Journal of Psychology, 95:139-145.
Huergo, E., e Jaumandreu, J. (2004) Firms’ Age, Process Innovation and Productivity Growth, International Journal of Industrial Organization 22:541-559.
Johnson, W. (1978) A Theory of Job Shopping, Quarterly Journal of Economics, 92:261-277.
Ouimet, P. e Zarutskie, R. (2013) “Who Works for Startups? The Relation between Firm Age, Employee Age, and Growth”, Center for Economic Studies Working Papers.

Topel, R. e Ward, M. (1992) Job Mobility and the Careers of Young Men, Quarterly Journal of Economics, 107:441-79.

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