quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Ensino Superior: Uma escolha que pode ditar o futuro



No passado dia 20 de julho arrancou a 1.ª fase de candidaturas ao Ensino Superior para o próximo ano letivo, ano em que as universidades e politécnicos disponibilizam 50.555 vagas, conforme gráfico infra, distribuídas por 1.048 cursos, o que significa uma redução de 1% das vagas comparativamente a 2014, sendo a saúde, direito e economia as áreas com maior número de vagas. Apesar desta quebra, a redução de vagas do próximo ano letivo é menos drástica do que a registada em anos anteriores, já que em 2014 foram menos 641 lugares, em 2013 menos 837 e em 2012 menos 1202.
Todos os anos se repete o exercício, de alocar as vagas de acordo com as médias do ensino secundário. O número limitado de vagas serve, não apenas para diminuir a concorrência em certas profissões, mas para distribuir os candidatos por cursos que de outra maneira teriam pouca ou nenhuma procura.




A falta de procura levou ao encerramento de 16 cursos do ensino superior, entre 2008 e 2014, e o número de candidatos ao ensino superior desceu de 53.415 para 42.455, pelo que é compreensível a contração do número de vagas disponíveis verificada. No entanto, desde o ano letivo passado, a procura deixou de ser o único fator considerado para a determinação do número de vagas, passando este numero a estar dependente dos índices de empregabilidade dos cursos. Consequentemente, os cursos com níveis de desemprego superiores aos registados entre os licenciados em geral ou mais elevados do que o índice médio de empregabilidade dos alunos das instituições em que o curso se inserem deixam de poder aumentar o número de vagas.

Conforme dados divulgados pela Direção - Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) e se pode observar na figura supra, em dezembro de 2014 8,6% das 146.577 pessoas que se diplomaram no ensino superior público entre 2009/2010 e 2012/2013 estavam registadas nos centros de emprego. Já no ensino superior privado a percentagem sobe para os 12,7%, num universo de 48.342 licenciados. Como tal não é surpreendente que seja o ensino superior privado a liderar a tabela dos cursos com maior desemprego, cujas taxas variam entre ao 37,4% e os 68,9%.
Por seu turno, os cursos com taxa de desemprego situados no liminar zero são os já esperados de Medicina, mas também Teologia, da Universidade Católica, Línguas e Culturas Orientais, da Universidade do Minho, ou Música - Variante de Jazz do Instituto Politécnico do Porto.
Estes dados são meramente indicativos não devendo ser tomados como um indicador perfeito, uma vez que nem todos os desempregados estão inscritos nos centros de emprego, já que, por um lado são poucas as oportunidades disponibilizadas pelo IEFP e por lado as exigências impostas aos inscritos nos centro de emprego são algumas, de que é exemplo o caráter mandatário de comparência a formações. Acresce ainda, a existência de jovens que mesmo estando a empregados estão inseridos numa área distinta da sua formação superior.
Independentemente do cenário menos positivo traçado da presente análise, é importante não menosprezar as mais-valias de se possuir uma habilitação superior quando se pretende ingressar no mercado de trabalho e progredir profissionalmente, uma vez que uma das missões do ensino superior é ensinar a pensar, a resolver problemas e proporcionar autonomia intelectual, contribuindo assim, através de ferramentas intelectuais, para a preparação para a vida ativa.
Dados recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), como mostra o gráfico abaixo, denotam que desde 2009 as habilitações ao nível do ensino apresentam uma taxa de desemprego inferior comparativamente a níveis de escolaridade inferiores.



A 1.ª fase de candidaturas ao ensino superior termina esta sexta-feira (7 de agosto) e os resultados serão divulgados a 7 de setembro, no portal da Direção - Geral do Ensino Superior (DGES). Apesar de crescente informação sobre os cursos, muitas continuam a ser as dúvidas que os assombram os alunos que chegam ao final do 12.º ano sem saber que curso escolher. O portal Inforcursos possibilita conhecer os vários estabelecimentos de ensino e a sua oferta, mostrando quais os cursos com maior ou menor emprego, com mais desistências, médias de acesso, vagas e até a distribuição dos alunos por género. A DGES lançou também este ano uma app que permite consultar guias de candidaturas, calendários e prazos de publicação de resultados e de início de novas fases, notícias relativas à candidatura ao Ensino Superior e contactos úteis.
A transição para o ensino superior e o afunilar de um caminho profissional futuro decorrente da escolha da área de formação, despoletam no jovem estudante um vasto conjunto de inquietações. De seguida apresentam-se os ponderadores mais comummente utilizados aquando da escolha do curso, contudo a ordenação poderá ser diferente, já que cada estudante terá a sua própria ordem de prioridades.
1)    Empregabilidade e saídas profissionais;
2)    Notas do secundário;
3)    Especialização dos cursos;
4)    Vocação e aptidões cognitivas para a área/curso;
5)    Reputação da escola e/ou curso;
6)    Localização;
7)    Custos a incorrer (propinas, alojamento, transportes, etc.);
8)    Cultura da academia;
9)    Qualidade do corpo docente.
Não obstante, as autoridades legítimas não parecem ter hesitações e destacam a taxa de emprego dos diplomados como o critério crucial. Desta forma, acreditam que o melhor curso é aquele que dá ao jovem emprego, sem que venha a ter necessidade de após o curso depender dos pais. Embora este pareça um critério sensato, não pode ser o único a ser considerado, já que o mercado de trabalho, não sendo estático, pode mudar antes mesmo de se concluir o curso. Assim, a opção por um curso para o qual não se tenha vocação aumentará a probabilidade de desmotivação e de não se ser muito bom naquilo que faz e portanto, aumenta também a probabilidade de vir a fazer parte dos números do desemprego. Posto isto, a vocação deverá ser, sem dúvida, um dos principais, senão o principal, ponderador a considerar.
Embora o ingresso no ensino superior seja a ambição de todos os que concorrem, muitos são também os que o abandonam sem completarem o (até então) tão desejado curso. No ano passado, cerca de 5 mil alunos abandonaram o Ensino Superior Público, no seu 2.º ano de inscrição, acreditando-se que a principal causa deste abandono estará ligada com a falta de condições financeiras.
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