sexta-feira, 24 de abril de 2015

Desmitificando produtos financeiros: Certificados


Os certificados são produtos financeiros amplamente difundidos na Europa apesar de terem, ainda, pouca expressão em Portugal, pelo que existem muitas dúvidas por parte dos investidores que ensombram o crescimento deste produto são os que desconhecem as características deste produto financeiro, ainda de pouca expressão em Portugal. Contudo, este produto financeiro está amplamente difundido na Europa. Em Portugal os certificados surgiram em 2002 e atualmente a diversidade é ainda reduzida, tendo ficado a emissão sob a alçada de apenas três entidades: o Millennium bcp Investimento (www.millenniumbcp.pt), o Commerzbank (www.warrants.commerzbank.com) e a UBS (www.ubs.com).

Os certificados integram o grupo dos produtos financeiros complexos e estão sujeitos ao risco de flutuação do preço e ao risco associado aos mercados financeiros, representando, normalmente, uma participação num índice de ações. Assim, mediante uma única aplicação é possível investir, de forma indireta, em todas as ações que compõem um índice.
Por regra, os certificados são emitidos por instituições financeiras e transacionados em bolsa. Como tal, o investidor poderá esperar pela data de vencimento do certificado ou vendê-lo em bolsa, a qualquer momento. Independentemente de ter ou não data de vencimento, o valor do certificado refletirá sempre a variação da cotação do ativo subjacente. Quando o ativo subjacente sobe, o valor dos certificados aumenta na mesma proporção, sucedendo precisamente o mesmo em caso de queda. Adicionalmente, sendo as transações negociados na bolsa estão sujeitas às habituais comissões de corretagem.
Os índices de ações são os ativos subjacentes mais comuns dos contudo existem outros ativos subjacentes, utilizados com menor frequência, como índices do setor imobiliário, índices de índices, taxas de câmbio, metais preciosos, etc.

Para compreender como funciona o investimento em certificados, é indispensável conhecer as características das emissões que são:



Os certificados constituem um instrumento útil para diversificar os investimentos, à semelhança dos fundos de investimento. Em sentido lato, pode-se definir fundos de investimento como uma carteira de produtos financeiros detida por inúmeros investidores que aplicam em conjunto o seu dinheiro em ações, obrigações, depósitos ou outros produtos gerida por uma equipa de especialistas - a sociedade gestora - que pertence habitualmente a uma instituição financeira.

Ao contrário do que acontece com os fundos de investimento, os certificados estão isentos de custos de gestão e ao serem transacionáveis em bolsa permitem ao investidor, a qualquer momento, vender os certificados que detém e receber o seu valor (cotação) nessa altura. Ao replicarem um índice os certificados permitem aos pequenos investidores obter uma carteira de ações diversificada. A desvantagem é que o investidor não tem intervenção na gestão do certificado, já que é simplesmente uma réplica de um índice.

Os certificados comportam riscos semelhantes aos de uma carteira de ações e portanto, não existe rendimento nem capital garantido. Releve-se que os certificados não se limitam exclusivamente aos certificados de pura indexação, estão disponíveis no mercado outras variantes, de que são exemplo os Certificados Reversos, Bónus ou Discount. De destacar que este produto financeiro nada têm a ver com os conhecidos Certificados de Aforro/Tesouro, onde o investidor tem um determinado rendimento garantido.
O regime fiscal que vigora para os certificados é idêntico ao que vigora para os warrants. As mais-valias obtidas estão sujeitas a uma taxa liberatória de 28% ou, em alternativa, podem ser englobadas aos restantes rendimentos.


Mais informação em:

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Ano Europeu para o Desenvolvimento: toca a todos!



A União Europeia (UE) desde 1983 todos os anos destaca um tema que será alvo de uma campanha destinada a sensibilizar o cidadão europeu e os governos nacionais. Trata-se de uma oportunidade para sensibilizar os cidadãos europeus para as políticas de desenvolvimento da União Europeia e para o seu papel enquanto um dos principais agentes mundiais na luta contra a pobreza.
De entre as várias vantagens destas campanhas anuais, enumeram-se as seguintes:
• Mobilizar o sistema político no sentido de assumir compromissos;
• Criar sinergias entre as várias áreas de intervenção a diferentes níveis (UE, Estados-Membros, autoridades regionais e locais)
• Trazer valor acrescentado para iniciativas isoladas dos Estados-Membros;
• Criar uma ocasião única para a mudança de atitudes políticas;
• Posicionar assuntos no topo da agenda da UE.

O ano de 2015 foi declarado o “Ano Europeu para o Desenvolvimento”, cuja máxima é “o nosso mundo, a nossa dignidade, o nosso futuro”
Os objetivos do Ano Europeu para o Desenvolvimento são:
a) Informar os cidadãos da União sobre a cooperação para o desenvolvimento da União e dos respetivos Estados Membros;
b) Fomentar a participação direta, o pensamento crítico e o interesse ativo dos cidadãos da União e dos interessados na cooperação para o desenvolvimento, inclusive na formulação e execução das respetivas políticas; e
c) Sensibilizar para os benefícios decorrentes da política de cooperação para o desenvolvimento da União não apenas para os beneficiários da ajuda ao desenvolvimento da União, mas também para os cidadãos da União.

As medidas para alcançar os objetivos do Ano Europeu estão organizadas a vários níveis de atuação: (1) União Europeia; (2) Nacional; (3) Regional ou; (4) Local e incluem medidas como:
a) Campanhas de comunicação destinadas ao público em geral e a audiências mais específicas, nomeadamente aos jovens e a outros grupos alvo;
b) Organização de conferências, eventos e iniciativas com todas as partes interessadas para incentivar a participação ativa e o debate;
c) Medidas concretas nos Estados-Membros destinadas a promover os objetivos do Ano Europeu, em especial através da educação para o desenvolvimento, do intercâmbio de informações e da partilha de experiência e boas práticas entre as administrações nacionais, regionais e locais e outras organizações;
d) Realização de estudos e inquéritos, e divulgação dos respetivos resultados.

Em Portugal, o Ano Europeu para o Desenvolvimento foi oficialmente apresentado a 14 de fevereiro do presente ano com uma cerimónia de abertura e um espetáculo no Teatro Rivoli, no Porto. Durante este mês tem início uma exposição itinerante com temas como educação, mulheres, saúde, segurança, migrações e direitos humanos, e ainda uma conferência internacional sobre os desafios do desenvolvimento em parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian. A atribuição de prémios de jornalismo e de investigação também está contemplada no plano desta iniciativa.
A União Europeia é, sem dúvida, o maior contribuinte mundial de ajuda ao desenvolvimento de países terceiros, daí que este não seja um tema novo a nível Europeu mas que merece sem dúvida alguma um ano de destaque. Em 2013 Portugal gastou 368 milhões de euros neste tipo de ajuda, prevendo o Ministério dos Negócios Estrangeiros um orçamento de 17 milhões de euros para 2015.
Nunca foi tão pertinente e necessário encarar a cooperação como um instrumento efetivo para o desenvolvimento, sendo por isso essencial revisitar as metas do Milénio (ODM), definidas para se atingirem até 2015, onde a erradicação da pobreza constituía um dos combates mais emergentes, contudo esta erradicação está, ainda, longe de se alcançar. Este Ano Europeu constitui assim um ano em que acima de tudo deve servir para mudar o rumo para uma estratégia que crie riqueza e ativos qualificados, que contribua de forma determinante e decisiva para a erradicação da pobreza no Mundo, e que combata todas as formas de discriminação de género que ainda atingem o género feminino no acesso à educação, ao emprego e aos sistemas de saúde.

Mais informações em:



sexta-feira, 10 de abril de 2015

Portugal 2020: o que precisa de saber


O Quadro Portugal 2020 é o sucessor oficial do Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN) e enquadra os apoios estruturais da União Europeia para o período 2014 - 2020, cuja prioridade é o setor privado e o emprego.
No segundo semestre de 2014 foram disponibilizadas as verbas deste quadro comunitário (2014-2020) para as empresas. Portugal irá receber 25 mil milhões de euros até 2020. Contudo, os fundos dependem de um acordo entre todos Estados membros da União Europeia acordo relativamente ao orçamento comunitário (para do mesmo período: 2014-2020).
As prioridades do Portugal 2020 organizam-se em quatro temáticas centrais:
1.       Competitividade e internacionalização;
2.       Inclusão social e emprego;
3.       Capital humano;
4.       Sustentabilidade e eficiência no uso de recursos.

O Portugal 2020 tem 5 principais prioridades, as quais se discriminam de seguida:
1. Estímulo à produção de bens e serviços transacionáveis, à internacionalização da economia e à qualificação do perfil de especialização da economia portuguesa;
2. Investimento em educação e em iniciativas dirigidas à empregabilidade;
3.       Integração das pessoas em risco de pobreza e de combate à exclusão social;
4.      Promoção da coesão e competitividade territorial;
5. Assegurar que os fundos contribuam para a racionalização, modernização e capacitação institucional da Administração Pública e para a reorganização dos modelos de provisão de bens e serviços públicos.

A atribuição dos fundos depende de 5 princípios basilares que se enumeram de seguida:
  1. Racionalidade Económica - a atribuição dos fundos depende da sua mais-valia;
  2. Concentração - concentrar o apoio num número limitado de domínios / áreas de atuação para maximizar o impacto;
  3. Disciplina Financeira e da Integração Orçamental - depende do impacto presente e futuro nas contas públicas e coerência com a programação orçamental plurianual nacional;
  4. Segregação das Funções de Gestão e Prevenção de Conflitos de Interesse;
  5. Transparência e Prestação de Contas - aplicação de boas práticas de informação pública dos apoios concedidos e da avaliação dos resultados obtidos;
Estes princípios estão alinhados com o crescimento inteligente, sustentável e inclusivo, prosseguido na Estratégia Europa 2020.
Um outro princípio que rege todo este programa é a confiança. Espera-se que os beneficiários do fundo sejam verdadeiros nas informações que prestam bem como cumpram aquilo a que se propõem. Em caso de incumprimento por parte do beneficiário podem ser reduzidos ou retirados os fundos já atribuídos.
O Sistema de Incentivos (SI) à Qualificação (ver AVISO Nº 05/SI/2015) e Internacionalização (ver AVISO Nº 06/SI/2015) das PME inserem-se no Portugal 2020 e decorrerão até dia 22 de Maio (1ª fase) através do Balcão 2020.
O SI qualificação PME tem como objetivo a promoção da competitividade das empresas através do aumento da produtividade, flexibilidade e capacidade de resposta.

Mais informações em:

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Agências de notação: da imparcialidade ao conflito de interesses



No dia em que faz uma semana em que a Fitch manteve o rating da dívida pública portuguesa, nada mais oportuno do que perceber a razão das críticas dirigidas ao trabalho desenvolvido pelas agências de notação e mais concretamente às notações que emitem.
De facto, as agências de notação de risco enfrentam conflitos de interesses entre emitentes e investidores no desenvolvimento das suas análises. Enquanto a preocupação dos emitentes recai sobre a sobrestimação do risco de crédito, os investidores estão preocupados com a subestimação do risco.
Cada agência de notação tem necessidade de manter a sua própria reputação o mais elevada possível, já que é a reputação que sustenta as receitas e daí a importância de avaliações precisas.

Os fatores que podem estar na origem destes conflitos de interesses são vários - comissões, notching, notações não solicitadas, tying e relações estabelecidas com as sociedades alvo de notação – e justificam-se na tabela seguinte.

Origem
Significado/Justificação
Comissões
- Dependência económica de determinado emitente; Participação dos analistas de risco na negociação de comissões; e eventual variação da remuneração em função das comissões recebidas.

Notching
- Consiste em reduzir ou recusar a atribuição de notação de risco a certos valores mobiliários (títulos de divida emitidos por empresas ou outras entidades) se a notação de outros valores mobiliários, integrados na mesma ou noutra operação, não for realizada pela sociedade de notação de risco em causa ou se for contratada outra sociedade de notação de risco a posteriori para a mesma tarefa.

Tying
- A emissão notações de risco não é a única missão das agências de notação, esta não exclusividade designa-se por tying, que gera maior dependência da empresa.

Relações com a Entidade objeto de notação
- Participação direta ou indireta na sociedade alvo de notação de risco pela agência põe em risco a imparcialidade.

Notação
não solicitada
- Pode servir de pressão junto do emitente obrigando a despender comissões para não ver a sua notação ser pior avaliada.

A informação é sem dúvida um fator chave, no entanto a assimetria de informação é um terreno fértil para a existência de conflitos de interesses.

Uma outra questão que merece refleção é o tempo que a agência demora a refletir as mudanças de um determinado país no respetivo rating emitido. Esta questão não é consensual. Apesar dos investidores consideram que as agências deviam refletir alterações recentes, os emitentes discordarem desta posição. Não obstante, ambos consideram importante a notação reflita as mudanças, (mesmo que pequenas ou marginais) das condições financeiras.


Bibliografia
Baker, H,, e Mansi, S, 2002, Assessing Credit Rating Agencies by Bond Issuers and Institutional Investors, Journal of Business Finance and Accounting, 29(9): 1367-1398.
Cornaggia, J,, Cornaggia, K, e Hund, J, 2011, Credit Ratings across Asset Classes: A ≡ A?
Ellis, D, 1998, Different Sides of the Same Story: Investors and Issuers Views of Rating Agencies, Journal of Fixed Income, 7(4): 35-45.
Falcão, R, 2011, Da Responsabilidade Das Agências De Notação De Risco Perante Os Investidores, Universidade de Lisboa, Lisboa.
Jackson, A, 2005, Trade generation, reputation, and sell-side analysts, Journal of Finance, 60(2): 673–717.
Mehran, H,, e Stulz, R, 2007, The economics of conflicts of interest in financial institutions, Journal of Financial Economics, 85(2): 267-296.