sexta-feira, 5 de junho de 2015

A influência da gestão de topo na performance da empresa: será uma questão de género?


Numa altura em que se reivindicam direitos de igualdade de género e proliferam iniciativas em prol da sensibilização desta temática, é cada vez mais comum a difusão de notícias que reconhecem as vantagens de se ter uma mulher aos comandos de uma empresa, pelo que torna-se essencial perceber em que medida a performance de uma empresa pode (se é que pode de facto!) ser afetada por questões de género.

De facto, é inegável que nas últimas décadas as mulheres têm feito progressos significativos em áreas tradicionalmente associadas ao género masculino. No entanto, dados recentes da Comissão Europeia, evidenciam que apesar dos esforços e progressos que se têm realizado nesse sentido, o género feminino continua sub-representado em cargos hierarquicamente superiores.

Mais do que discutir as implicações éticas e sociais da igualdade de oportunidades em cargos superiores, pretende-se lançar a discussão sobre as implicações que a presença feminina na gestão de topo tem na competitividade da empresa, não apenas como uma mera consequência de um processo de recrutamento e promoção baseado no mérito neutro em termos de género, mas sim devido aos potenciais benefícios da diversidade de género em si mesma.

De acordo com a literatura existente, acredita-te que a representação feminina na gestão de topo melhora a performance das tarefas de gestão de topo e consequentemente conduz ao aumento da performance da empresa, mesmo em casos onde, hipoteticamente, as barreiras à progressão das mulheres tenham sido eliminadas.

Entre as justificações que têm sido apresentadas para justificar o impacto positivo da presença feminina em cargos hierarquicamente superiores encontram-se: (1) a diversidade social e de informação; (2) a diferença de género nos comportamentos de gestão; (3) a motivação das mulheres da gestão intermédia; (4) normas relacionadas com o género no comportamento da gestão.

A diversidade social e de informação têm um impacto positivo no melhoramento das tarefas de gestão de topo na medida em estas adicionam ao grupo experiências de vida diferentes, proporcionando insights em questões estratégicas importantes, nomeadamente no que toca às necessidades de consumo do universo feminino e à diferente sensibilidade em lidar com os funcionários ou com parceiros comercias. Esta diversidade torna a equipa mais heterogénea, o que por seu turno diversifica os pontos de vista e o conhecimento em consequência da consideração e respetiva discussão de um conjunto mais alargado de soluções, o que leva à tomada de decisões de qualidade superior.

Também se acredita que a diferença de género nos comportamentos de gestão influencia positivamente a qualidade das tarefas da gestão de topo, uma vez que alguns estudos têm demonstrado que as mulheres apresentam um estilo de liderança mais interativo, potenciando a inclusão. Mais concretamente, considera-se que as mulheres encorajam a participação de terceiros através da solicitação de inputs a outros elementos da equipa, partilha de poder e informação ou mantendo os canais de comunicação com os subordinados abertos. Outros autores concluem que as mulheres têm uma tendência menor para a hierarquização, sendo mais cooperativas e colaborativas que os homens. Ora, isto traduz-se num estilo de gestão mais democrático e mais participativo, que promove a partilha de informação sobre tarefas relevantes.

Se, as duas características anteriores potenciam a melhoria da tarefas de gestão de topo, é óbvio que essa melhoria se refletirá no aumento da performance da empresa.

Por sua vez, a motivação das mulheres da gestão intermédia irá potenciar a melhoria das tarefas da gestão intermédia. A presença de uma mulher na gestão de topo é um fator crítico para que a gestão intermédia acredite no sucesso e na possibilidade de progressão alinhando motivações e compromissos, que resultaram numa melhoria da qualidade das tarefas realizadas. Adicionalmente, a presença feminina na gestão de topo indicia que a empresa apresenta um comportamento amigável relativamente à progressão das mulheres.

As normas relacionadas com o género no comportamento da gestão consubstanciam-se nas diferenças relativas às expectativas do comportamento de liderança entre diferentes géneros. Ou seja, mesmo por razões já históricas, espera-se que as atitudes de liderança sejam diferentes entre ambos os géneros, sendo muito comum a existência de estereótipos relativos às falhas por parte das mulheres em competências tradicionalmente masculinas. Ora, a presença de um determinado género na gestão de topo vai potenciar a adoção dessas mesmas características por parte dos níveis de gestão inferior. Ora, como já se explicitou a montante, tendencialmente, no caso das mulheres, estimular-se-á comportamentos de cooperação e partilha.

As duas características anteriores traduzem-se numa melhoria das tarefas da gestão intermédia que, claro está, terá um contributo preponderante para a melhoria da performance da empresa, mas não só. Acredita-se que a melhoria da qualidade tanto das tarefas da gestão de topo, como das tarefas da gestão intermédia contribuem decisivamente para o incremento da intensidade em inovação. Repare-se que a diversidade está muito associada a elevados níveis de criatividade e inovação, pelo que provando-se os argumentos teóricos expostos, concluir-se-ia pela particular importância das mulheres em cargos de chefia em caso de empresas com forte vertente inovadora.

Foi exatamente essa a conclusão de um estudo realizado nos EUA (Estados Unidos da América) a uma amostra alargada de empresa para um período de 15 anos, o qual concluiu que a presença das mulheres na gestão de topo está associada à melhoria da performance da empresa, mas apenas nos casos em que a estratégia da empresa está direcionada para a inovação.

Referências:
Dezs, Cristian L.; Ross, David Gaddis (2002) “Does female representation in top management improve firm performance? a panel data investigation” Strategic Management Journal, Vol. 33; pp. 1072–1089


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