“Em Portugal, as empresas familiares
empregam 60% da população ativa, representam cerca de 70% do tecido
empresarial, contribuem para 50% do emprego e 66% do Produto Interno Bruto (PIB),
apesar de “não existirem estatísticas precisas” sobre esta matéria, explica
Peter Villax, presidente da Associação das Empresas Familiares” (Empresas e
Negócios, 2014).
Estudos internacionais têm demonstrado
que a maioria das empresas mundiais são familiares e que algumas delas ocupam lugares
cimeiros nas listas das maiores empresas, pelo que é indubitável o peso e
importância destas empresas para a economia Portuguesa e mundial. Realce-se que
inversamente àquilo que muitas vezes prolifera no senso comum, as empresas
familiares não se limitam a micro ou pequenas empresas. Segundo Swoboda e Olejnik
(2013) muitas das grandes empresas que hoje conhecemos começaram por ser
pequenas empresas familiares que foram crescendo.
Face ao exposto, não subsistem dúvidas
quanto ao efetivo sucesso de muitas empresas familiares, sendo que existem
vários fatores que contribuem de forma positiva para tal. De entre os vários
fatores, hoje pretendemos dar a conhecer a relação entre o sucesso das empresas
familiares e o acesso ao capital geracional, ou seja o capital que passa de
geração em geração e que incentiva os proprietários a manter a empresa na
família por tempo indeterminado, repassando-a para novas gerações de elementos
da família e investindo na valorização do respetivo capital humano através da
formação dos herdeiros.
Para compreender esta relação não se pode,
contudo, descurar a diferença entre as práticas de gestão entre empresas familiares
e empresas não familiares. Nas empresas familiares o capital é detido parcial
ou na totalidade por uma família (Miller e Le Breton-Miller, 2006) e os membros
ocupam os cargos de gestão (Getz e Carlsen, 2005).
Na história dos negócios e da economia,
as empresas familiares assumiram-se uma fonte crucial de dinamismo e progresso
da industrialização, ao permitir a minimização de assimetrias de informação e o
incentivando o empreendedorismo. Claro que à medida que a indústria cresceu, as
instituições sociais e económicas fortaleceram-se, tornando o papel de
parentesco menos importante. Simultaneamente, as empresas começaram a tornar-se
cada vez mais complexas, sendo que nem sempre conseguiram encontrar talento
dentro da família compatível as exigências do mercado, tornando-se necessária a
procura de profissionais com talento fora da família.
As empresas familiares apresentam, em média, níveis
superiores de experiência internacional, tanto do CEO (chef executive office) como da equipa de gestão, quando comparadas com
empresas não familiares, Adicionalmente, as empresas familiares apesar de terem
menor dimensão e serem menos intensivas em I&D, são mais propensas à inovação
do que que as empresas não familiares.
Nos países onde as empresas familiares
conservam o seu papel preponderante (e.g. EUA e Japão) a economia tende a degenerar,
produzindo uma má alocação do talento empreendedor, que funcionará como
impedimento à inovação tecnológica e tornar-se-á uma barreira à mobilidade
social.
Hassler e Mora (2000) argumentam que
os filhos de empresários têm acesso a informação de gestão mais eficaz do que os
descendentes dos trabalhadores.
Contudo, Carillo et al. (2015) concluíram que, em média, as empresas familiares usam
práticas de gestão piores do que empresas não familiares. A existência de uma
lacuna maior em sociedades que atribuem uma grande importância às relações familiares
e por isso vão deixando a liderança das empresas a membros da família e a
existência de uma correlação positiva entre a qualidade das práticas de gestão
das empresas e o nível de desenvolvimento da economia, também fizeram parte das
conclusões destes autores.
Por fim, e dado o peso significativo
das empresas familiares na economia Portuguesa, releva-se que, em Portugal,
existe uma associação de empresas familiares com o objetivo de melhorar a
gestão, alargar o universo de conhecimentos e preparar as empresas para a
mudança, oferecendo para isso: serviços especializados; eventos: congressos,
seminários, conferências, cursos, workshops; e programas de intercâmbio de
estágios entre empresas familiares. Mais informações sobre esta associação pode
ser encontrada em http://www.empresasfamiliares.pt/.
Mas esta é uma realidade não só em
Portugal como demonstra a figura supra, mas também na Europa onde esta
tipologia única de
empresas desempenha um papel vital para a economia responsável por:
i. 40
a 50% de todos os postos de trabalho;
ii. Investimento responsável
em oposição ao financiamento da dívida;
iii. Estratégias de longo prazo, tendo em conta os interesses
dos
stakeholders, incluindo empregados, clientes, acionistas, comunidades
locais;
iv. Transmissão de
valores familiares com um elevado sentido de
responsabilidade social;
v. Preocupação especial com a envolvente
local ou
regional;
vi. Desenvolver uma
cultura empreendedora
e fomentar a próxima geração
de empresários
europeus.
Daí que se compreenda a existência
duma associação de carater europeu, European
Familiy Businesses (EFB) que tem a missão de
pressionar para políticas que reconheçam
o contributo fundamental das empresas
familiares na economia europeia e
criar condições de concorrência equitativas,
relativamente a outros tipos de empresas.
Mais informações sobre
esta associação pode ser encontrada em http://www.europeanfamilybusinesses.eu/
Referências:
Carillo, R., Lombardo, V. e Zazzaro, A. (2015),
“Family Firms and Entrepreneurial Human Capital in the Process of Development”,
Working Paper
N. 400, CSEF - Centre for Studies in Economics and Finance.
Getz, D., Carlsen, J. (2005), “Family business in
tourism – state of art”, Annals of Tourism Research, 237–258.
Hassler, J., e Mora, J., (2000) “Intelligence, Social
Mobility, and Growth,” The American Economic Review, 888–908.
Miller, D., Le Breton-Miller, I. (2006), “Family
governance and firm performance: agency, stewardship, and capabilities”, Family
Business Review, 73-87.
Swoboda, B., Olejnik, E. (2013), “A taxonomy of small
and medium-sized international family firms”, Journal of International
Entrepreneurship.
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