sexta-feira, 3 de julho de 2015

Depreciação de capital humano: os recursos humanos também perdem valor de mercado?




O conhecimento é indiscutivelmente a base de qualquer economia, potenciando de forma determinante a criação de valor para qualquer empresa e/ou economia. Por conseguinte o capital humano assume uma importância preponderante para quem contrata e simultaneamente, subsiste o princípio de que os indivíduos devem investir na sua formação de forma a incrementarem ganhos futuros.

Além do mais, de acordo com a teoria do capital humano, quanto mais cedo ocorrer o investimento na educação e consequente aquisição e desenvolvimento de competências, maior será a duração da receção dos benefícios provenientes desse investimento. Contudo, o referido investimento não se deverá limitar à formação escolar, sendo crucial que se sustente aquando e durante a permanecia no mercado trabalho. Num trabalho publicado em 1974 reconhecia-se que a necessidade de formação diminuiria com o avanço da idade, perspetivando-se que terminasse apenas alguns anos antes da reforma. 

Não obstante, se por um lado a importância do conhecimento nas mais variadas vertentes constitui um assunto amplamente debatido e até consensual no que toca aos benefícios provenientes do seu investimento, por outro lado, a depreciação do conhecimento é um tema relativamente negligenciado.

À semelhança da depreciação contabilística dos ativos tangíveis, a depreciação de capital humano é definida como a diminuição do valor de mercado do trabalhador.  As principais razões apontadas como justificação desta depreciação ou da desatualização dos conhecimentos são o desemprego e o afastamento do mercado de trabalho por determinados períodos de tempo, pelas mais variadas razões de que são exemplo as questões pessoais e familiares.

Não subsistem portanto dúvidas quando à efetiva existência de depreciação de capital humano, porém os fatores que inibem ou aceleram a depreciação são ainda muito pouco consensuais. Neste sentido, tem sido concretizadas várias desagregações, na literatura existente, que visam identificar o grupo de caraterísticas que mais influenciam a depreciação de capital humano.

Um dos primeiros debates prende-se com o nível de qualificações. Teorias mais antigas defendem que indivíduos mais qualificados estariam mais expostos à depreciação dos seus conhecimentos do que indivíduos menos qualificados. Os defensores desta teoria argumentavam que os indivíduos menos qualificados exerciam funções mais rotineiras e que não sofreriam alterações relevantes com o passar do tempo, e como tal os conhecimentos estariam menos expostos à obsolescência. Por outro lado, defendiam que os indivíduos mais qualificados ao exercerem funções que implicam conhecimentos permanentemente atualizados estariam mais expostos à depreciação do capital humano.

Teorias mais recentes defendem o oposto ou seja, que indivíduos mais qualificados apresentam uma taxa de depreciação inferior, dado que o nível formação superior contribui para o aumento da flexibilidade e adaptabilidade dos indivíduos. Naturalmente, é também mais fácil para indivíduos com níveis de formação mais elevados reentrarem no mercado de trabalho, mesmo para funções diferentes, devido à flexibilidade bem como é mais provável que continuem a ter formação. Em todo o caso, estudos mais recentes têm corroborado este argumento.

Outra divergência prende-se com a distinção entre o género masculino e feminino. Como se pode observar pela tabela infra, não há acordo quanto ao género mais propenso à depreciação de capital humano, sendo também o número de estudos que incidem sobre as mulheres consideravelmente mais reduzido.

Percentagem de depreciação de capital humano por ano
País (ano do estudo)
Homens
Mulheres
EUA (1970)
4.6 - 13.3%
-
EUA (1974)
-
0.2 - 4.3 %
EUA (1974)
1.0 - 3.4%
-
EUA (1976)
0.7 - 4.7%
-
EUA (1976)
0.5 - 4.3%
-
Grã-Bretanha e Holanda (1978)
13.6 - 21.0%
9.0 - 17.2%
Espanha (2004)
1.2 - 1.5%
0.3 - 1.2%
Espanha (2005)
1.2%
-
EUA (2007)
11.6 - 18.1%
12.4 - 13.2%
Suíça (2010)
0,7%
1,5%

Em termos teóricos predomina a ideia que o capital humano do género feminino deprecia mais facilmente do que o do género masculino, devido à maior ausência por parte das mulheres do mercado de trabalho, ou seja normalmente a taxa de desemprego é maior no género feminino do que no masculino, as ausências por questões familiares são também mais frequentes nas mulheres e consequentemente os homens são tidos como mais ligados à carreira. Ou seja, as mulheres têm maior propensão para interromperem a carreira o que leva, tanto à descontinuidade da produção de novo capital humano, como à mais rápida obsolescência do capital humano existente. Aliás este é um dos argumentos por vezes utilizado para explicar as diferenças salariais existentes entre géneros.

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