sexta-feira, 17 de julho de 2015

Outsoucing e Offshore: A decisão de subcontratar





O mundo económico tem sofrido mudanças significativas ao longo das últimas décadas, com especial destaque para o comércio internacional, a organização industrial e a globalização. Entre os vários fatores que estimularam o comércio internacional e fomentaram a globalização podemos referir a redução das barreiras legais à entrada em novos mercados e dos custos de transporte ou os acordos entre países (e.g. comerciais). 

Por seu turno, a globalização da produção e do comércio despoletou o crescimento das capacidades industriais, num vasto conjunto de países menos desenvolvidos, bem como a desintegração vertical das empresas multinacionais (empresas localizadas em mais do que um país), as quais redefiniram as suas competências essenciais (core) em áreas como a inovação, a estratégia do produto, o marketing e os segmentos produtivos e serviços de maior valor acrescentado e, simultaneamente, reduziram a propriedade direta sobre as funções não-core como os serviços genéricos e a produção em massa. 

A organização internacional da produção tem por base a noção de “cadeia de valor global” que se pode definir como o processo através do qual se combina tecnologia, com material e mão-de-obra, por forma a criar partes do produto final (inputs) que serão, posteriormente, montados, enviados para o mercado e distribuídos. Este processo pode ser realizado exclusivamente por uma única empresa (integração vertical) ou pode ser distribuído/ fragmentado por várias empresas em vários países (sourcing).  

Ou seja, a fragmentação da produção consiste na separação física de diferentes partes do processo produtivo. Este processo pode ser distribuído por diferentes empresas sem ligação de propriedade com a casa-mãe bem como, pode ocorrer exclusivamente dentro do país de origem (outsourcing) ou fora dele (offshore).  

O objetivo inerente à delegação de partes do processo produtivo ou, eventualmente, de serviços complementares a terceiros ou mesmo a sua deslocalização para outros países tem implícito o benefício decorrente dos baixos custos provenientes das economias de escala e de competências de especialização de terceiros que permitem a produção de produtos de elevada qualidade a preços competitivos.

Contudo, a construção de uma cadeia de valor tem implicações a vários níveis. Desde logo emergem várias preocupações ao nível da gestão, nomeadamente relacionadas com a eficiência, o cumprimento exato das especificações, o cumprimento dos prazos de chegada de bens intermédios ao respetivo elo da cadeia de abastecimento, a garantia dos produtos, a qualidade, entre outras. É também essencial um conhecimento profundo da indústria, mais concretamente a forma de organização e dimensão das empresas daquela indústria, quem são os principais produtores e respetivos fornecedores bem como a sua localização.  

Face aos prós e contras de subcontratar a questão que emerge é quando é mais benéfico subcontratar e quando se deverá manter todo o processo na mesma empresa (in-house). Note-se que o estabelecimento de subsidiárias noutro país (Investimento Direto Estrangeiro) permite beneficiar do potencial daquele país mantendo o processo dentro da mesma empresa. 

Num mercado de concorrência perfeita, com produtos estandardizados e elevado controlo de comportamentos oportunistas, nomeadamente através da confiança, reputação e dependência mutua, o Investimento Direto Estrangeiro terá menos importância, podendo mais facilmente optar-se por offshore.

Relativamente ao tipo de atividade a subcontratar, apesar das teorias que defendem que a empresa se deve focar em atividade que criem valor e sejam dificilmente imitáveis pela concorrência – atividades core, podendo fazer outsourcing de atividades não-core, outras teorias há, como a da capacidade de aprendizagem das empresas que, contrariamente, defende que mesmo sendo a atividade fundamental para a empresa, se implicar muitas dificuldades, despendimento de demasiado tempo e aquisição de competências consideradas complexas para a empresa ou se essa atividade for muito esporádica, tal atividade deverá ser realizada externamente, usufruindo assim a empresa de economias de escala e trabalho especializado. 

Tomada a decisão de recorrer a recursos externos, o tipo de relação a criar com o fornecedor dependerá das características e objetivos da empresa, pelo que de seguida se especificam 5 tipos de cadeias de valor globais e as características a ter em conta na escolha do tipo de cadeia de valor mais adequada.
1.    Mercado – Os custos de mudança para novos parceiros são baixos para ambas as partes. Não implica que as ligações da empresa ao fornecedor e vice-versa sejam meramente transitórias, podendo persistir ao longo do tempo como operação de repetição. No entanto será uma ligação de menos compromisso;
2. Cadeia de valor modular – Os fornecedores elaboram os produtos de acordo com especificações do cliente, que poderão ser mais ou menos detalhadas. No caso de serviços “chave na mão” como é o caso dos fornecedores de empresas de equipamentos eletrónicos, os fornecedores assumem total responsabilidade pelas competências tecnológicas, bem como pelo investimento em máquinas específicas para aquele processo;
3.    Cadeia de valor relacional – Estabelecem-se relações complexas entre cliente e fornecedor, criando-se dependência mútua e elevados níveis de ativos específicos, que poderão ser geridos através da reputação ou laços familiares. Há quem defenda que neste tipo de cadeia de valor é importante a proximidade geográfica entre ambas as partes, no entanto tem-se reconhecido também que as ligações de confiança e reputação entre as partes podem permitir a dispersão geográfica das partes sem impacto na qualidade da relação;
4.  Cadeia de valor cativa – Pequenos fornecedores são dependentes de clientes maiores e consequentemente, uma mudança representaria custos bastante significativos para o fornecedor. Este tipo de rede é normalmente caracterizada por um elevado grau de monotorização e controlo pela empresa cliente;
5.    Hierarquia – Caracteriza-se por uma integração vertical. A forma de controlo ao nível da gestão é dos gestores para os subordinados ou da casa-mãe para as subsidiárias. 
Segundo Gereffy (2005) a escolha pelo tipo de cadeia de valor mais adequada resulta da análise de três fatores que podem ser classificados como baixo ou alto e que se descrevem de seguida.


  •   Complexidade da informação e da transferência de conhecimento requeridos para sustentar uma transação específica, especialmente no caso de especificações de produtos ou processos;

  •  Codificação de informação e conhecimentos, isto é, em que medida e com que facilidade a informação e o conhecimento podem ser codificados para posteriormente serem transmitidos de forma eficiente e sem necessidade de se recorrer a investimentos em operações específicas entre cliente e fornecedor;

  • Capacidade de atuais e potenciais fornecedores relativamente a pedidos de operações.

A Figura seguinte ilustra em que situações a análise integrada dos três fatores referidos a montante conduzem à opção por cada tipo de cadeia de valor.
Fonte: Gereffy (2005

Referências

Gereffy, Gary, Humphrey, Jonh; Sturgeon, Timothy (2005) “The governance of Global Value Chain”, Review of International Political Economy, Vol.18 nº. 1 pp78-104

Gereffy, Gary; Lee, Joonkoo (2012) “Why the word suddenly care about global chains”, Journal of Supply Chain Management, Jul 2012, Vol. 48 nº. 3 pp 24-32

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